segunda-feira, 21 de junho de 2010

QUALQUER BOCADINHO

Qualquer bocadinho de parede é importante
digo-te:
- A arte cabe nela como uma grávida mulher oleada e espatulada na fúria do artista.
Para haver arte tem que haver sexo:
- Não achas?
Pinta-me à vontade nesse palco sem plateia, só nós, de branco a desaparecer nas cores de chumbo, da realidade.
Não se compram quadros, compra-se assinaturas- dizes «eu concordo»
O artista é lembrado sempre que morre esquecido.Como o amor, na galeria dos teus olhos.Um quadro meio -abstracto, meio-absurdo, meio-coloquial. Não temas o programa desta noite, iremos sofrer sem ter que sofrer.É arte que dói no impulso, espera, aguenta vou-te arrancar da parede, estás paralisada, eu sei...
Ninguém irá saber que fui que te pintei, mas que importa que sejas só uma sombra daquilo que sou, tu és minha, o quadro é meu fui quem inventou, fui eu quem inventou a forma de te ver, azul dentro do azul, filho dentro de mãe, pendurada, compassiva na parede do meu corpo dorido.
Não te preocupes se uma mancha se desfizer, retoco-te amanhã com o brilho da curta ausência que nos une.
A arte é assim, podre e bonita destacada da neblina, do soalho, da tela, onde te deito, exponho-te-me ao mundo os óleos que esprememos no Olimpo da madrugada adentro e assim somos uma pictórica realidade, surgir do fundo superficial dos escombros
fala-me! Diz ao menos que me ouves, FALA, FALA QUE EU NÃO CONSIGO......



Gostaria de ter escrito isto, mas não fui eu

este lindo bocadinho de prosa é lindo de morrer no azul , como dizia o meu Amigo Jerónimo.
Mas quem escreveu isto foi o meu amigo

Flávio Silver

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